[Resenha] Flores Raras e Banalíssimas -Carmen L. Oliveira | Editora Rocco |




Sinopse: Em Flores raras e banalíssimas , Carmen L. Oliveira conta a relação de Elizabeth Bishop e Maria Carlota Costallat de Macedo Soares (Lota) e a criação do Parque do Flamengo, enorme contribuição para a cidade do Rio de Janeiro. O livro focaliza Lota e as figuras que junto com ela construíram a história recente do Rio de Janeiro e do Brasil. O livro revela trechos inéditos da história do país - as discussões de Lota com o governador Carlos Lacerda, a briga com o arquiteto Sérgio Bernardes, a rivalidade com Burle Marx, a presença de Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Portinari, Carlos Scliar, Rachel de Queiroz e Carlos Drummond de Andrade. Mas sua principal contribuição é o resgate de Lota, consciência de vanguarda que combateu a fúria imobiliária e a intervenção nos monumentos naturais do Rio de Janeiro. Segundo a autora, a relação das duas pode ser dividida em duas fases. Nos primeiros dez anos foram felizes e assumiram sua homossexualidade com surpreendente naturalidade para a época. A partir de 1961, a obsessão de Lota pela conclusão do Parque do Flamengo e a crescente instabilidade emocional de Bishop contribuíram para que enfrentassem uma forte crise até 1967. Muito além de um caso amoroso, este livro revela trechos inéditos da história do país.




“Aquela miúda e franzina criatura, toda nervos, toda luz, que se chamava Dona Lota.” 

Carlos Lacerda Rio, setembro de 1967




Sempre assisto filmes temáticos LGBT por motivos de amo/sou e amor é fã Glória Pires por isso chegamos em no livro Flores Raras e Banalíssimas, imagine um livro fofo e apaixonante, este é um.

Eu não conhecia nem um pouco a história de Lota e da Elizabeth eu sou eu só conhecia pelo famoso poema a Arte de Perder.
Fiquei fascinada com a história dessas duas mulheres maravilhosas e fiquei também triste por não ter conhecido elas antes. Flores Raras e Banalíssimas conta além de uma história de amor a história do Brasil e da criação do Parque do Flamengo
O que me emociona é que livro é contado a partir de relatos e cartas, então aquele amor foi tão impactante que apenas relatos se transformaram neste livro lindo, e é lindo até o final trágico. 
Flores raras é o relato de duas mulheres prafrentex que se apaixonaram e foi um amor forte e bonito sem se importar com os preconceitos, nada escondido nem escancarado elas vivem a vida delas do jeito delas. 

''Desde a primeira vez que a viu, Naná ficou fascinada. Lota era terrível, maravilhosa de se ver. Ao encontrar uma pessoa inteligente, tornava-se interlocutor magnífico. Naná, que não se considerava especialmente brilhante, mantinha-se em silêncio reverente enquanto Lota, exaltada, luminosa, impunha sua presença. Cercada de homens, a quem supostamente cabia o privilégio da atividade intelectual, fazia-os ultrapassar o preconceito de se considerar tolerável a inteligência numa mulher: eles a admiravam e amavam. Ao longo da vida, Lota teve entre seus amigos Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Prudente de Morais Neto, José Olympio, Pedro Nava, Gustavo Corção.'' 


Lota foi uma mulher notável e por onde passava causava na vida das pessoas, Elizabeth é o sol na vida de Lota os poemas que escrevia melhoravam cada vez mais, quando recebeu a noticia que tinha ganho o premio Pulitzer por North & South ela estava em Samambaia. Bem Bishop era uma mulher sozinha e encontrou um lar nos braços de Lota. O que me encanta é o fato de que quando Elizabeth chegou aqui no Brasil Lota tinha um relacionamento com Mary Morse amiga de Elizabeth.

Lota tinha um sobrenome influente na época e por vezes ela usou apenas um para que as portas fossem abertas ou fechadas por ela. Lota conhecia muita gente importante e pensava muito à sua frente era arquiteta e apaixonada por arte, engajada na política, tinha uma posição social notável.
O filme divergiu pouco do livro a frase 'Elizabeth Bishop welcome to Brasil' dita por Lota não aconteceu pois elas só se conhecem quando Lota vai buscá-la para conhecer a casa de samambaia. 



'' Na hora combinada, um Jaguar vermelho de capota arriada aterrou junto à calçada. Dele saltou, com elegância, uma mulher baixinha que lhe estendeu um sorriso. Ao se aproximar, Bishop notou que era bem mais morena do que se recordava. Com a mão direita Lota apertou vigorosamente a mão de Bishop, enquanto com a esquerda lhe afagava o ombro. Olhava-a nos olhos. – Vamos? Desacostumada com aquele tipo de contato, Bishop não sabia como proceder. Lota abriu a porta do carro, determinando com um gesto que era para ela se sentar. A seguir, arrancou e saíram avoando. Em pouco tempo Lota desvencilhou-se de carros e lotações e estavam subindo uma serra, em meio a um cenário deslumbrante. À esquerda, as montanhas se sucediam sob nuvens caudalosas. À direita, a estrada era margeada por aglomerações de flores de cores vivas. ''






A palavra que mais descreve Lota no livro é determinação e a escrita é tão envolvente e apaixonante que você se vê facilmente na vida delas e querer ser amiga desse casal. Em nenhum momento você sente estranheza por serem duas mulheres.

A escritora foi sutil e carinhosa com essa história tão fantástica o livro retrata também o calor e visão do brasileiro por um turista, Flores Raras e Banalisssimas mexe com o leitor, é um romance lindo e atemporal, conta história do Rio de Janeiro da criação do Parque, mostra principalmente o quanto o nome de Lota foi esquecido e colocado de lado apenas por ser mulher. Nos faz ver o crescimento do nome de Bishop como poeta e apresentara a degradação de um amor colorido terminar em cinzas.

Flores raras é único e muito bem escrito. Um livro feito por uma brasileira para brasileiros. Existe também um livro chamado A Arte de Perder Michael Sledge que também conta história de Elizabeth e Lota baseado nas cartas deixadas por Elizabeth esse é um livro muito bonito também.
Flores Raras é um romance sobre duas mulheres verdadeiras cheias de medos e realizações, com um final que não tinha como ser diferente em se tratando de Lota de Macedo Soares. Em alguns momentos o livro é narrado pelas lembranças de amigas de Lota, é uma leitura rápida e fácil cheia de ilustrações e fotos da época. Um livro pra ser guardado com carinho e relido sempre para se apaixonar. Flores Raras me ensinou que o eterno existe dentro de um período de tempo, este livro é uma biografia de amor em todas as suas nuances. Duas mulheres tão maravilhosas e necessárias. Eu tenho tanto carinho por esse livro e pela história que eu jamais eu conseguir em palavras descrever o quanto maravilhoso ele é! 


'' Embaixo, uma caricatura de Lota, sentada de pernas abertas, feita pelo Augusto Rodrigues.
 – Que mau gosto retratar a Lota assim. 
– Maria Amélia, ela era assim.
– Imagine, Vivinha, ela era elegantíssima. Finíssima. 
– Isso era mesmo – concordou Naná. 
– Lota não era elegante no sentido de se vestir na moda, mas tinha o cuidado de se apresentar sempre bem. As roupas, de altíssima qualidade. Casaco de tweed inglês. Calçados do Moreira. A costureira, a Esmeralda, atendia toda a granfinagem. As camisas eram engomadas à perfeição.
 – Esse era um lado dela – insistiu Vivinha. – O outro era esse lado esculachado. Falando palavrão, seu filho disso, seu filho daquilo. De jeans, com as mangas da camisa arregaçadas. Acho até que foi Lota quem inventou essa história de andar com as mangas arregaçadas. 
– Realmente, tinha esse lado sapeca. 
– Bom, de qualquer forma, fiquei muito chocada com a forma como o jornal se referiu a Lota e Bishop. Maria Amélia tinha entrado no assunto. Naná suspirou. 
– Ficou chocada, foi, Maria Amélia? Você queria o quê? 
– Ora, Vivinha. Ali havia um amor de almas. 
– Minha Santa Periquita dos Pneus Furados! 
– Lota era uma pessoa austera. 
– E por acaso uma pessoa austera é capada? Vivinha era de amargar. 
– Vivinha! 
– Maria Amélia, você tem a mania de querer enquadrar Lota como uma solteirona frustrada, porque não casou e teve uma boiada de filhos que nem você. Meta isso no bestunto: ela era a pessoa mais charmosa, mais fascinante deste mundo. Tinha competência para levar quem bem entendesse para a cama dela. 
– Vivinha!! 
Terreno perigoso. Vivinha também era solteira e tinha lá a vida dela. Naná gostaria que o assunto parasse por ali.
 – Naná, o que você acha? 
Ai, meu Deus.
 – Não sei, não sei. Elas eram discretíssimas. Quando eu ia a Samambaia dormia na ala dos hóspedes. Elas se retiravam para o lado delas, fechavam a porta. O que se passava atrás da porta eu não sei.
 – Isso mesmo. Era particular. 
– Que nada. Não estamos falando do que se passava atrás das portas, mas do que se passava à vista de todos. Se Lota era discretíssima, era também autenticíssima. Sempre se mostrou como realmente era, e sempre se fez respeitar assim. Ou não? 
A presença imperativa de Lota ocupou a sala.''





Flores Raras e Banalíssimas A História de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop
Carmen L. Oliveira
Ano: 1995 Páginas: 224 Editora Rocco



Sobre a autora: Carmen L. Oliveira é carioca, pós-graduada em literatura pela University of Notre Dame. Escritora e tradutora . Escreveu artigos para O Globo, O Estado de São Paulo e Bravo! Conferencista no Brasil e exterior. Publicou os ensaios "Luminous Lota" ( em In Worcester, Massachusetts, Peter Lang Ed.) e " Jack Soul Brasileira -- identidade cultural e globalização" (em Globalização, democracia e desenvolvimento social, CEBRI). Publicou, pela Rocco, Trilhos e quintais, reconstrução das revoluções de 30 e 32, na ótica de uma cidade imaginária em Minas Gerais.

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